Marcha Zumbi +10

Espaço para divulgação da Marcha Zumbi +10, que ocorrerá no dia 16 de novembro de 2005, junto aos meios de comunicação, militância, mundo acadêmico entre outros.

11.04.2005

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Fundo de Apoio à Presença das Mulheres na Marcha

Banco do Brasil

Agência:
3240-9

Conta corrente: 18431-4

em nome de Maria Mulher Organização de Mulheres Negras

Conta Especial do Fundo aberta em 24 de maio de 2005


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11.03.2005

Entrevista - Humberto Adami

Humberto Adami, presidente do Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara), do Rio de Janeiro, tem se destacado como advogado atuante na defesa dos direitos dos negros brasileiros. Juntamente com um conjunto de organizações, Adami, impetrou ação junto ao Supremo Tribunal Federal favorável à política de cotas nas universidades. Crítico do Governo Federal, Humberto Adami vem pautando suas falas na denúncia de um "aparelhamento do Estado por parte do PT", denúncia esta que torna-se visível com o apoio declarado do diretório do PT à Marcha do dia 22 de novembro.


1) Adami, qual sua posição com relação à Marcha do dia 16 e a do dia 22?


Na foto do primeiro Jornal Irohin, há o retrato da primeira reunião sobre o assunto.

Fui convidado a fazer uma exposição sobre os caminhos jurídicos pelo qual enveredara no âmbito da ação afirmativa, e que estavam ainda em elaboração. Na época, só se falava na MARCHA.

Não havia essa idéia da CONTRA MARCHA, do dia 22.

Tempos depois soube que, gestada na Seppir, era uma tentativa de dividir o Movimento Negro, porque se temia que a Marcha, com 200 mil negros e negras, se tornasse uma passeata de protesto contra o Governo Federal, e contra o racismo.

Achei este raciocínio muito canhestro, porque mau ou bem, o Governo Federal, ou mesmo o Governo Lula, não poderia ser responsabilizado pelo racismo existente no País.

Assim acho que de uma idéia completamente estabanada, e por todos os pontos de vista históricos, desastrada, de onde nasceu essa divisão sabe-se lá para que.

Mas, no fundo, isto tem constituído uma forma deliberada de funcionar.

Veja por exemplo a Marcha da UNE.

Teve a UNE SEM dinheiro público que marchou numa segunda feira, e a UNE COM dinheiro, que recebeu quase um milhão de reais, como foi noticiado na imprensa, e que marchou numa quarta.

Acho que a política de “retirar uma unha encravada”, praticada por Delúbio Soares, andou fazendo escola nas diversas alas petistas, em especial as que estão encasteladas no Governo Federal.

2) Você acha que esta divisão surge agora por contadas marchas ou ela já era latente dentro do Movimento Negro?

Não sei dizer se era uma divisão latente no Movimento Negro, mas acredito que está mais para TER SIDO INDUZIDA no Movimento Negro.

É notória uma certa autofagia no MN, uma briga tamanha que não se sabe exatamente porque, pois há tanto a fazer, que, com toda certeza, há muito espaço para todos.

No entanto, as pessoas brigam, disputam, dão pernadas, sabe-se lá exatamente porque.

Não haveria necessidade disso.

Digo isso com a tranqüilidade de quem montou o evento paralelo e o oficial da Conferência Nacional do Conselho Federal da OAB, no ano de 99, que jamais havia tratado do tema.

Lembro-me depois de ter tido a idéia, fui ao Presidente da Comissão de Temática, com companheiros do MN, e conseguimos o espaço.

Havia lugar suficiente para todos e, no entanto o que se seguiu foi um verdadeiro fratricídio, que colocou o evento sob risco várias vezes, e por obvio, apanhei muito e tive muito trabalho.

Enorme o prejuízo pessoal.

As pessoas não se incomodavam em perder o evento.

O que elas não queriam era que não desse certo, ainda que elas também estivessem participando, apenas porque, não tinha a sua autoria a iniciativa.

Nesse caso da MARCHA E DA CONTRA-MARCHA, há uma inequívoca aplicação dos Princípios de MAQUIÁVEL: DIVIDIR PARA GOVERNAR.

O equívoco é isso ter saído de uma área que muitos dizem ter sido fruto de trabalho de muitas gerações, e do próprio Movimento Negro, como ouço dizer todo dia, para pregar a divisão e a desunião.

Essas pessoas que estão a praticar este tipo de política, esquecem-se que sairão de seus cargos muito em breve, e que não há discriminação contra negros e negras que não são do PT, PSDB, PFL, PSTU, PSOL, etc.

Há discriminação racial contra negros e negras no Brasil.

Portanto, ainda que estejam sendo tratados por “V. Excia.” , momentaneamente, logo deixarão tal situação, e passarão a sofrer dos mesmos males que sofrem os comuns, os que estão na rua, os que estão nas favelas, os que não tem padrinhos políticos.

Nem donos.

3) A Marcha do dia 16 está partidarizada pela direita, como citam algumas pessoas?

Isto é um engodo, pois nem sei se há mais direita e esquerda, neste País. Quando vemos a política econômica do PSDB praticada alegremente pelo LULA DO PT, ficamos a perguntar: quem é direita, quem é esquerda?

A direita sempre se notabilizou por ter recursos, por ter partidos políticos, por ter voz de comando que não precisava do povo como componente.

Este, quando aparecia, era apenar para dar o ar da graça como “curral eleitoral”. Morei 23 anos em Brasília, e 03 no interior da Bahia, e vi muito disso Brasil afora.

Estou desde 86 no Rio de Janeiro, onde nasci.

Hoje não é isso que acontece.

Pelo que sei não há qualquer dinheiro na organização da Marcha.

O que vi é essa decisão do Partido do “finalmente expulso” Delúbio; do “duro de cassar e não sabia de nada, Zé “Mandado de Segurança no STF” Dirceu; e também de um monte de gente séria Brasil afora, mandando “contribuir com a mobilização” da marcha do dia 22, referindo-se à CONTRA MARCHA.

Ora em tempos das não esquecidas “malas voadoras da Igreja Universal”, bem como das “cuecas endinheiradas de dólar sem dono”, isto, digamos, não é uma boa medida.


4) Como você vê o pós-Marchas? Ou seja, este processo todo tem sido doloroso e traumático. Como ficará o Movimento Negro após isso tudo?

Acho que, como dizem os mais antigos, para todos os males há cura.

Menos para a morte. Alguns divergem.

Aqueles que estão achando que só exercendo carguinhos em Brasília virarão Deputados Federais, Estaduais, Vereadores, estão muito enganados.

Vão trair, trair e morrer na praia.

Um certo político aqui no Rio de Janeiro, disse, tempos atrás, que um outro partido era o “Partido da Boquinha”.

Isto é injusto e está errado para com muitas pessoas de bem que militam no tal Partido, mas esta decisão do Diretório Nacional do PT, deixa expostos muitos de seus membros porque incita Governos Estaduais e Municipais a “contribuir” com a Marcha dia 22.

E o Federal?

Já está implícito ou é o autor da ação.

O Pós Marcha vai continuar com a luta de muito tempo.

Essas criaturas terão seu retorno garantido.

Esperaremos.

Recebi de uma dessas almas penadas da Internet, uma mensagem dizendo que meu desacordo era: 1) porque um cunhado meu era para ter sido escolhido Ministro, o qual nunca soube que sequer tinha sido candidato; 2)que minha insatisfação era porque não tinha apoio oficial da Seppir, para o que, este sindicalista do Rio Grande do Sul, que tem a Síndrome de Peter Pan (ou seja, nunca cresce), chamava de “minhas iniciativas pessoais”.

Pus-me a pensar.

Represento hoje 23 instituições do Movimento Negro e fora dele, no âmbito do Supremo Tribunal Federal, em advocacia pro bono e absolutamente gratuita, no AMICUS CURIAE, o amigo da corte, em prol dos cotistas da UERJ.

Muitos dos valorosos companheiros partidários ficaram emudecidos quando o pau quebrou em cima dos cotistas.

Da mesma forma, a FENADV – FEDERAÇÃO NACIONAL DE ADVOGADOS, constituída de 27 Sindicatos de Advogados de todo o país, representou ao Ministério Publico do Trabalho para apuração da desigualdade racial no mercado de trabalho.

O resultado é que 05 bancos privados estão sendo processados em todo o País, numa situação inédita que este Programa de Combate á Discriminação Racial no Mercado de Trabalho, do Ministério Público do Trabalho está a promover, e que esta só começando.

Há material em www.adami.adv.br , como fotos.

O setor oficial do Governo persiste em olhar e não apoiar. Daqui há pouco vão dizer que foram eles que estão a frente do MPT.

Da mesma forma, oito entidades de Movimento Negro, e mais dois Mandatos Parlamentares, inclusive do PT – RJ, impetraram REPRESENTAÇÃO AO MINISTÉRIO PUBLICO FEDERAL, E DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, para apuração da não implementação da Lei 10.639, a Lei de História da África e Cultura Afro Brasileira, que já resultou em 93 inquéritos civis públicos, pelo que se sabe, e a intimação de todas as diretoras de escolar públicas e privadas. Os currículos estão sendo encaminhados ao IARA- Instituto da Advocacia Racial e Ambiental, aqui no Rio de Janeiro.

Da mesma, com 09 outras instituições do MN, ingressamos com Hábeas Corpus em favor de clandestinos africanos encarcerados, como em outros estados. Bastaram “trinta moedas” para que muitos deixassem o assunto de lado.

Não esqueçamos que mandamos para a Academia, a propositura do PREMIO NOBEL DA PAZ para ABDIAS NASCIMENTO.

Isto foi acompanhado por todos os setores do MN, inclusive a retardatária Seppir.

Então, como estamos a praticar “iniciativas individuais”.

Isto rigorosamente, não é verdade e fica mais dentro dos “fuxicos” do que estamos chamando de “industria da seca” da ação afirmativa e do combate à discriminação racial. É como na seca do nordeste onde o dinheiro seguia para matar a sede dos nordestinos pobres, e ficava no meio do caminho. Agora temos a figura do “pelego racial”.

5) Com o apoio do Diretório Nacional do PT e sua recomendação que todas as instâncias partidárias contribuam co m a Marcha do dia 22 você tem dito da necessidade de o Ministério Público estar acompanhando isso, por que?

Acho que o partido político deveria apoiar a idéia, o conceito, a luta.


Se dissesse que apoiaria a MARCHA ZUMBI + 10, ninguém podia dizer nada. Mas ao mandar contribuir com a Marcha do dia 22 é o mesmo que mandar a conta da passagem dos colegas do filho de Lula nas férias da Granja do Torto. Não acho certo, não concordo e dá ensejo a um monte de medidas em período pré-eleitoral. Pessoalmente, estou disposto a oficiar a todos os órgãos do Ministério Público do País, e aos Presidentes de Tribunais Regionais Eleitorais, remetendo cópia da resolução e pedindo abertura de investigação.

Não se trata de uso de financiamento “ do que temos direito em vista do nosso passado como população negra e que o Estado tem de financiar mesmo”, como alguns inocentes úteis escalados para o trabalho de tropa de choque da Seppir” tem sido encorajados a papagaiar Brasil afora.

Trata-se de utilização da “res publica” em caráter privado.

Simplesmente. Se querem financiar, ou “contribuir” com “recursos contabilizados ou não”, que contribuam para todos.

E ainda assim poderia ter gente discordando. O que esse pessoal não enxerga é a perspectiva histórica. Quem se lembra dos ocupantes de cargos DAS que sabotaram ABDIAS na situação de SITIADO EM LAGOS? Por óbvio que essas atitudes menores, mesquinhas, dão de retorno exatamente o mesmo o mesmo tipo situação propõe.


6) Nos últimos meses temos visto uma série de escândalos envolvendo o governo, o PT e a gestão dos recursos públicos. Você acha que isso poderá de uma forma ou de outra ter influência sobre os apoios à Marcha do dia 22?

Não dá para dizer, pois essa divisão acabou por minimizar e acirrar os ânimos. Vejo áulicos a celebrar as datas (16 e 22) como se fosse guerra de torcida, num autentico Flamengo X Vasco, quando na verdade os times em questão não tem nem o vermelho, nem o branco. São todos pretos.

Também acredito que este momento político não é um momento comum. Acabamos de ver o Presidente da Câmara ser retirado do cargo, por corrupção, alegando discriminação por ser nordestino e ninguém deu bola, ante a evidência do cheque do “mensalinho”. Maluf ainda curtiu uma cana de 41 dias. Garotinho está condenado por abuso eleitoral.


7) Essa ação do Ministério Público que você propõe poderia se estender ao apoio de empresas estatais a projetos e a instituições que têm recebido esses recursos como patrocínio?

É possível, se ficar caracterizado que o apoio é em virtude de benefício eleitoral.

Quem quer financiar a luta da comunidade negra, não tem que condicionar à filiação partidária.

Os negros do PT não são mais negros que os negros de outros partidos, ou não filiados a partidos políticos.

Esse tipo de política lembra a política praticada pelos coronéis do sertão. Lembram do tempo em que eleitores recebiam um pé de sapato antes da eleição e outro depois? Tem havido muita distribuição de recursos públicos, patrocínios e outros mimos. Isto por um lado é bom, pois como me alertou um ex-representante do MNU/RJ, “ para o povo negro, nunca a chegava nada”.

Mas isso não pode ser em troca de voto, como no tempo em que voto se trocava por dentadura.

Aí penso que cabe intervenção sim dos Tribunais Eleitorais, e desde já a investigação do MP.

Em tempos de filas no Banco Rural, saques e depósitos sem dono, muita grana em agências de publicidade, acho que a prudência recomendaria que houvesse uma grande investigação.

Até por que, o que chamo de “política do beija flor”, torna o orçamento de muitas secretarias ministeriais muitas vezes maiores do que realmente dizem ser, através das “bicadas” que dão em muitas empresas públicas e outras mais.


8) Para concluir, você participará de alguma das Marchas e por que?


Só participarei da MARCHA. Por óbvio, no dia 16.

Acho ate que não deveria haver a CONTRA MARCHA. Tudo poderia ser feito num único dia. Os contra o Governo e os a favor. Desde que fossem num único dia e com um único objetivo: protestar contra o racismo. Os negros do Governo Federal, ou a seu favor, não são mais negros do que não são filiados ao partido majoritário da base de aliança governamental.

11.01.2005

Lutando o bom combate


Zumbi, produziu esta maravilha, 100.000 pessoas nas ruas de Salvador, contra tudo e contra todos, que apostavam na dependência e subserviência do movimento negro a interesses partidários e sindicais apenas.

De 2001 até hoje, mobilizamos a cada ano 100.000 pessoas, para protestar contra o Estado brasileiro (governos, partidos, sindicatos, sociedade) que convivem com o mais cínico apartheid e ainda se acham no dever de dizer como devemos conduzir a luta negra.

De 2001 até hoje, criamos a secretaria municipal da Reparação em Salvador e colocamos os interesses da comunidade negra na agenda da Roma Negra. Os blocos afros, os afoxés, os terreiros de candomblé, as entidades de advogados negros, o MNU Bahia, todos juntos contra algo que insiste em continuar o racismo escrevemos uma bela pagina da nossa história.

Agora é o dia 16 de novembro, Vamos fazer apenas como Rosa Parks, Ghandy, Biko, Mandela, conduzir nossa luta para a vida e para a glória, não é possível que depois dos Palmares 1695, da Revolta dos Búzios 1798, da Revolta dos Malês, da Revolta das Chibatas 1910, como os patriotas angolanos fizeram no dia 04 de fevereiro de 1961 para iniciar a luta para libertar Angola de Portugal, depois das entidades modernas do movimento negro, do Quilombismo de Abdias Nascimento e de Leila Gonzalez não saibamos quem são os inimigos e como eles atuam em diferentes formas de governos no Brasil, Colônia, Império, República.

Para eles sempre estaremos divididos, não há recursos, nossas prioridades não são prioridades, e nem existimos, sobre apenas os números que os promoviam ao poder. Isto acabou somos nós pro quem se espera nas periferias das cidades, nos campos, somos a esperança de igualdade real para negros e negras da maior nação africana do mundo ocidental e portanto temos que fazer a luta o bom combate tudo para criar o homem novo, a mulher nova, em um país novo sem racismo, sem exploração de qualquer forma.

O melhor vem agora, quis o destino que esta etapa da luta seja conduzida justamente por filhos e filhas dos terreiros de candomblés ,que venceram a luta contra os cachorros da polícia, contra policiais brutalizados, contras as leis intolerantes, contra um sociedade injusta e que neste momento de crise civilizatória brasileira estaremos todos juntos em Brasília dizendo o que queremos e como queremos ao país que tem nome de arvore que trata seus frutos e folhas muito mal.

Venceremos a luta continua
Um só povo, Uma só luta
Diversas formas, diversas conquistas

João Jorge
Presidente do Olodum

PT partidariza Marcha

Por: Redação - Fonte: Afropress - 01/11/2005

Brasília – O que já se sabia informalmente tornou-se oficial: o PT decidiu assumir publicamente o patrocínio à Marcha Zumbi + 10 prevista para o dia 22/11, em Brasília, e em Resolução aprovada na semana que passou o Diretório Nacional do Partido orienta seus diretórios estaduais e municipais, governos municipais e estaduais, parlamentares e dirigentes partidários a “contribuir com a mobilização da Marcha Zumbi + 10 - Contra o Racismo, pela Cidadania e a Vida, que será realizada no dia 22 de novembro de 2005, Em Brasília”.
A Resolução não cita o Governo Federal nem a Seppir, nem fala como se dará a “contribuição”, nem quanto o Partido investirá em caravanas de militantes à Brasília, porém, a decisão está sendo vista como uma senha para investimento pesado da máquina partidária e sindical.

O protesto, que marca os 10 anos da primeira Marcha, em 1.995, divide o Movimento Negro em duas articulações distintas: a primeira, que defende maior autonomia e independência do Governo e do Estado que marchará dia 16/11; e a segunda liderada por entidades como a CONEN, UNEGRO e sindicatos da CUT, mais próximos à base governista, que defende o dia 22/11.

Para o advogado Humberto Adami, presidente do Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara), do Rio de Janeiro, a decisão do PT representa o “aparelhamento do Estado tantas vezes denunciado”, como no caso do escândalo do mensalão que há mais de cinco meses ocupa as páginas dos jornais. “Preparem-se para as malas voadoras, de todas as formas. Avisem ao Marcos Valério”, ironizou. “É o aparelhamento do Estado tantas vezes denunciado. O Ministério Público de todo o Pais deve acompanhar tais iniciativas, em todos os Estados e municípios porque na verdade o dinheiro público está sendo utilizado para uma determinada posição, quando deveria estar sendo colocado para todos”, acrescentou.

Adami defendeu uma ação nacional para cobrar providências do MP. “A petição de acompanhamento do MP é simples e deve pedir a responsabilização civil e penal dos administradores públicos”, afirmou.

Para o advogado José Roberto Militão, do PSB – partido da base aliada do Governo Lula – a Marcha do dia 16/11 também conta com apoio de setores de partidos de oposição ao Governo. “Manifesto minha objeção a essa tentativa de demonizar qualquer iniciativa política conquistada pelos ativistas que se encontram no PT e partidos aliados”, afirmou. Para Militão as duas Marchas merecem igualmente ser respeitadas, ambas com seus respectivos patrocinadores, pois enfim, ambas significam com suas contradições, seus compromissos políticos, verdadeiras mobilizações dos negros brasileiros contrários ao status quo”, concluiu.

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10.31.2005

Em legítima defesa


Por Sueli Carneiro*

Marcharemos em 16 de novembro próximo sobre Brasília em ato de indignação e protesto convocado pelo Movimento Negro Brasileiro. Por que o faremos? Muitas são as razões que advêm de uma realidade inaceitável contra a qual a militância negra vem historicamente lutando e frente à qual as respostas do Estado permanecem insuficientes, exigindo permanente esforço de compreensão.

Assim, contrato racial, biopoder e epistemicídio, por exemplo, são conceitos que se prestam como contribuição ao entendimento da perversidade do racismo. São marcos conceituais que balizaram a tese de doutorado que defendemos junto à USP em agosto passado sob o título “A construção do outro”, como não-ser como fundamento do ser. Nela procuramos demonstrar a existência no Brasil de um contrato racial que sela um acordo de exclusão e/ou subalternização dos negros, no qual o epistemicídio cumpre função estratégica em conexão com a tecnologia do biopoder.

É o filósofo afro-americano Charles Mills quem propõe no livro The Racial Contract (1997), que devemos tomar a inquestionável supremacia branca ocidental no mundo como um sistema político não-nomeado, porque ela estrutura “uma sociedade organizada racialmente, um Estado racial e um sistema jurídico racial, onde o status de brancos e não brancos é claramente demarcado, quer pela lei, quer pelo costume”. Um tipo de sociedade em que o caráter estrutural do racismo impede a realização dos fundamentos da democracia, quais sejam a liberdade, a igualdade e a fraternidade, posto que semelhante sociedade consagra hegemonias e subalternizações racialmente recortadas.

A branquitude, enquanto sistema de poder fundado no contrato racial, da qual todos os brancos são beneficiários, embora nem todos sejam signatários, pode ser descrita no Brasil por formulações complexas ou pelas evidências empíricas como no fato de que há absoluta prevalência da brancura em todas as instâncias de poder da sociedade: nos meios de comunicação, nas diretorias, gerências e chefias das empresas, nos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, nas hierarquias eclesiásticas, no corpo docente das universidades públicas ou privadas etc.

Por seu lado, Michel Foucault entende ser o racismo, contemporaneamente, uma dimensão do poder soberano sobre a vida e a morte. Operacionaliza-se, segundo Foucault, por meio do biopoder, conceito que descreve uma tecnologia de poder, uma biopolítica que permite a eliminação dos segmentos indesejáveis. Foucault sintetiza essa operação na expressão “deixar viver ou deixar morrer.”

Assim, para ele, “(...) o racismo é indispensável como condição para poder tirar a vida de alguém, para poder tirar a vida dos outros, a função assassina do Estado só pode ser assegurada desde que o Estado funcione, no modo do biopoder, pelo racismo” (Foucault, 2002, p. 306). A análise dos dados relativos à mortalidade, morbidade e expectativa de vida sustentam a visão de que a negritude se acha inscrita no signo da morte no Brasil, sendo sua melhor ilustração o déficit censitário de jovens negros, já identificado estatisticamente em função da violência que os expõe prioritariamente ao “deixar morrer”, além dos demais negros e negras, cujas vidas são cerceadas por mortes, preveníveis e evitáveis, que ocorrem pela omissão do Estado.

Alia-se nesse processo de banimento social a exclusão das oportunidades educacionais, o principal ativo para a mobilidade social no país. Nessa dinâmica, o aparelho educacional tem se constituído, de forma quase absoluta, para os racialmente inferiorizados, como fonte de múltiplos processos de aniquilamento da capacidade cognitiva e da confiança intelectual. É fenômeno que ocorre pelo rebaixamento da auto-estima que o racismo e a discriminação provocam no cotidiano escolar; pela negação aos negros da condição de sujeitos de conhecimento, por meio da desvalorização, negação ou ocultamento das contribuições do Continente Africano e da diáspora africana ao patrimônio cultural da humanidade; pela imposição do embranquecimento cultural e pela produção do fracasso e evasão escolar. A esses processos denominamos epistemicídio (Carneiro, 2005).

Assim a marcha de 16 de novembro será realizada contra a persistência dessa lógica que informa o Estado brasileiro que, quando não mata, mantém a maioria de nossa população em condições de indigência material e cultural, refém do paternalismo e do assistencialismo. Marcharemos contra o racismo, pela cidadania, pela vida e por reparações. Em legítima defesa. E convocamos a todas e todos que não são signatários desse contrato racial perverso a marcharem conosco, em honra à memória de Zumbi dos Palmares e pela conquista da plena cidadania para todos.

* Doutora em Filosofia da Educação pela USP e diretora do Geledés — Instituto da Mulher Negra

16 de Novembro - Marchar com as próprias pernas !


A superação da desigualdade social no Brasil, que faz do nosso país uma das piores distribuições de renda do Planeta, é inseparável do combate ao racismo, fruto de 350 anos de escravidão.

O racismo como fator estruturante dessa situação de desigualdade precisa ser erradicado para que se possa falar em democracia, justiça e outras belas palavras, ainda muito distantes da realidade de milhões de negros e negras brasileiras.

A história da resistência à opressão e a negação de direitos, vem se dando ao longo dos séculos no cotidiano do povo negro; nas suas manifestações culturais – do hip hop ao carnaval -, nas religiões de matriz africana - desde sempre reduto da resistência à tentativa de destruição de nossa identidade como seres humanos -; no futebol, nas Escolas de samba. Nossa história e a nossa própria existência podem ser traduzidas numa palavra: Resistência!

A redescoberta das mais de 4 mil comunidades de remanescentes de quilombos espalhadas por todos os Estados são a prova de que a idéia de passividade presente na historiografia oficial é falsa, tanto quanto é falso o mito da democracia racial ou do racismo cordial brasileiro que celebra a nossa presença, desde que nos conformemos ao círculo de giz que já vem traçado, a definir o nosso espaço e lugar: o da invisibilidade e da subalternidade.


A Marcha Zumbi + 10 pela Cidadania e pela Vida, marcada para daqui a um mês,tem o sentido e o significado não apenas de afirmação da identidade histórica herdada dos nossos ancestrais e forjada ao longo de séculos. É também o momento de nos levantarmos não como um ou dois, mas como milhões – a legião de excluídos, deserdados e discriminados da terra Brasil – para dizermos ao Estado Brasileiro que jamais aceitaremos o confinamento ao espaço que a elite branca racista nos reserva.


Nosso diálogo não é com o Governo ou com Governos – sejam de que Partidos forem –, mas com um Estado, que durante cinco séculos, nos usou, primeiro como mão de obra escrava, e hoje nos usa como exército de reserva; um Estado que preserva o racismo em suas instituições, que alimenta e reproduz nas suas práticas e políticas a exclusão, que é a sua marca.


Temos agenda própria, que não pode estar atrelada, nem subordinada a agenda de Partidos, nem de Governos, todos passageiros e transitórios, todos – de direita, de esquerda ou de centro – com um passivo secular em relação à população negra, nunca resgatado.


Daí porque, a disputa em torno de datas para a realização da Marcha Zumbi + 10 não pode se transformar numa guerra de egos de lideranças em busca de espaço político para seus projetos, que até podem ser legítimos; não pode significar a superposição da agenda de Partidos e ou de Governo sobre a nossa própria agenda; não pode servir aos que torcem pela nossa divisão e alimentam disputas menores para fragilizar e enfraquecer a nossa luta.


O movimento social negro – o mais antigo movimento de resistência do povo brasileiro contra a opressão - é, por natureza, democrático e plural. Nele estão presentes e representadas as várias correntes políticas e ideológicas. É nesta pluralidade que devemos buscar os pontos de convergência para a conquista da máxima unidade, indispensável para a vitória contra o racismo.


Devemos compreender que a construção de uma frente anti-racista não pode ser feita enquanto continuarmos presos a uma concepção de gueto, que nos isola e fragmenta; e que temos aliados em todos os segmentos e camadas – que podem ser ganhos se tivermos a capacidade e a generosidade de costurar as bandeiras do anti-racismo com o humanismo; da liberdade com justiça; da democracia traduzida em acesso à Educação, mercado de trabalho, Saúde e aos direitos plenos da cidadania.


Nossos irmãos e parentes indígenas – vítimas do genocídio que perdura por cinco séculos até os dias de hoje - são aliados naturais; os demais setores da sociedade atingidos pelo preconceito da pobreza ou vítimas históricas de discriminação, igualmente parceiros no combate à ignomínia do racismo e da discriminação - causa que temos o dever de honrar em memória dos nossos ancestrais.


É fundamental, contudo, que não se perca de vista que o pressuposto para a construção da unidade em torno de um Programa capaz de unir - da Academia à Periferia - os 84 milhões de afrodescentes brasileiros é que tenhamos a nossa própria agenda.

A tentativa de dividir a Marcha abertamente patrocinada por setores do Governo, sua base e setores aliados, com a marcação de uma outra data para o protesto, bem como a resistência ao diálogo que poderia servir para resolver divergências entre as lideranças, revelam que mais do que nunca o caminho é o da independência.

A Afropress – Agência Afroétnica de Notícias – projeto de Comunicação focado na temática racial e étnica da ONG ABC sem Racismo -, seguirá sendo um espaço plural aberto à defesa das diferentes teses e posições das articulações para a Marcha. Temos demonstrado isso na linha editorial da nossa cobertura.


Contudo, a Marcha a qual nos somamos é aquela que – independente das divergências entre seus articuladores – melhor representa uma postura de autonomia do Movimento Negro em relação ao Governo e aos Partidos – a Marcha Zumbi + 10, marcada para o dia 16 de novembro que reunirá milhares de negros e negras de todo o país. Marchamos para dizer ao Estado brasileiro: temos a nossa própria agenda e não aceitamos mais a condição de sub-cidadãos (ãs) a que estamos relegados há séculos.



Dojival Vieira
Jornalista Responsável
Registro MtB: 12.884 - Proc. DRT 37.685/81
Email:dojivalvieira@hotmail.com;abcsemracismo@hotmail.com

Os Jovens Manifestam-se



Dando continuidade à luta histórica dos Quilombos de Palmares e rememorando a imortalidade de Zumbi, assassinado há 310 anos, diversas organizações do Movimento Negro estarão em Brasília, no dia 16 de Novembro, realizando a Marcha Dandara & Zumbi + 10, Contra o Racismo e Pelo Direito à Vida. Marchar à Brasília significa manter viva a memória de uma grande referência nacional, Zumbi dos Palmares, e buscar soluções para as necessidades de nosso povo, o povo negro. A atual Marcha Dandara & Zumbi +10 é um eco da Marcha realizada há 10 anos atrás, no dia 20 de novembro de 1995, em Brasília, no Tricentenário de Zumbi; seus organizadores apresentaram ao então presidente Fernando Henrique Cardoso o Programa de Superação do Racismo e da Desigualdade Racial, que propunha diversas políticas e ações de caráter anti-racista. Esta primeira Marcha, considerada como um marco histórico na luta negra das ultimas décadas, pautou uma série de questões que balizaram a atuação de muitas organizações negras nos últimos 10 anos. Este processo resultou em algumas conquistas como, por exemplo, a revisão de livros didáticos onde o povo negro aparece de forma estereotipada; outra grande conquista, derivada de ações posteriores, foi a aprovação da Lei 10.639/2003, que insere o ensino da História e Cultura Africana e Afro-Brasileira em todos os níveis educacionais. As discussões e resoluções das carências historicamente impostas ao povo negro tornam-se ainda mais prementes neste momento, já que 2005 foi declarado oficialmente como o ano da Promoção da Igualdade Racial pelo atual presidente Luís Inácio Lula da Silva.

A Marcha Dandara & Zumbi +10 - Contra o Racismo e pela Cidadania e Direito a Vida visa, além de reforçar os avanços decorrentes da Marcha de 95, continuar pautando as demandas não contempladas, bem como as novas necessidades, além de cuidar para que todas estas se concretizem. As diversas vozes que se articulam para a Marcha Dandara & Zumbi + 10 convergem na fala da Casa de Cultura da Mulher Negra, que afirma:

· A Marcha Zumbi +10 aponta a urgência de políticas públicas que garantam o acesso a direitos civis, sociais, econômicos e culturais;

· A Marcha Zumbi+10 reafirma nosso direito a participação política, á liberdade de opinião e expressão e repudia todo tipo de controle partidário;

· A Marcha Zumbi+10 denuncia o extermínio da população negra não aceitamos que se possa ignorar indefinidamente na agenda política do país a ação dos grupos de extermínio e o clamor de mães que reclamam por justiça;

· A Marcha Zumbi+10 é pela aprovação do estatuto da igualdade racial, que o governo federal e os partidos políticos adiam, porque não querem enfrentar o racismo e todos os problemas decorrentes da subcidadania negra, sua pobreza e exclusão social;

· A Marcha Zumbi + 10 quer debater a extraordinária perversidade do modelo econômico vigente entre nós, que concentra absurdamente a renda e a riqueza, sem paralelo no mundo. Os negros querem enfim, dizer o que entendem por desenvolvimento com inclusão, cidadania, democracia.

Além de constituir-se como um espaço de atuação política, a Marcha configura-se também como um ambiente autônomo para a articulação e intercâmbio do próprio Movimento Negro, propiciando um momento de reavaliação do trajeto percorrido nos últimos 10 anos e de definição dos futuros rumos a serem trilhados na luta pelo empoderamento do povo negro, uma vez que, como ressalta Bantu Steve Biko, “estamos por nossa própria conta!”. Neste sentido, a Marcha que será realizada no dia 16 de novembro de 2005 tem um caráter renovador, uma vez que são propostas formas de organização onde os pressupostos da autonomia, protagonismo negro, matrifocalidade e as bases afrocentradas são fundantes.

Em consonância com este momento histórico, o Núcleo de Estudantes Negras Ubuntu-UNEB - enquanto movimento negro estudantil organizado - integra a construção da Marcha Dandara & Zumbi + 10, no dia 16 de Novembro, e busca articular-se com os estudantes negros e negras da UNEB, comunidades e organizações parceiras, de maneira que possamos apresentar suas reivindicações específicas, oriundas destas frentes de atuação política onde o Ubuntu está inserido. É indispensável que apresentemos as demandas constituídas nas articulações cotidianas das comunidades e organizações negras num momento de inflexão histórica como esta Marcha; bem como consideramos ser relevante para o corpo estudantil da UNEB e comunidades do entorno a participação num contexto de articulação nacional como este, de grande peso não apenas para a definição de políticas públicas a curto e médio prazo, como também para o processo de articulação interna das próprias comunidades.

PODER PARA O POVO PRETO!!!

Salvador, 26 de outubro de 2005

Núcleo de Estudantes Negras Ubuntu-UNEB

Chamada de Memória Lélia Gonzalez


Minhas Mais Velhas,
Meus Mais Velhos,
Minhas Mais Novas,
Meus Mais Novos,


Kolofé,
Mucuiú,
Motumbá,

Laroiê! pelo dia de hoje.

Neste ano de 2005, completamos 10 anos que estivemos em Brasília, na Marcha Zumbi- 1995
(foto anexa), quando entregamos ao então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, importante documento que continha as exigências do Movimento Negro "contra o racismo, pela cidadania e pela vida" da maioria da população deste País.

O documento pode ser acessado em
http://www.leliagonzalez.org.br/material/Marcha_Zumbi_1995_divulgacaoUNEGRO-RS.pdf


Passados 10 anos, contabilizamos 310 anos da morte de Zumbi dos Palmares e – contra todos os ideais, luta e sacrifício desse líder de nosso povo – muito pouco foi cumprido e continuamos sob infinitas formas de opressão, de discriminação, de massacre policial, de exclusão no trabalho, na escola, no lazer, na vida.

Temos garantido nossa dignidade dentro das Casas de Axé, graças à sabedoria encarnada em nossos Mais Velhos, homens negros e mulheres negras que, incansáveis, preservam e repassam os saberes de nossos ancestrais, garantindo a dignidade dos filhos de Axé, louvando Deuses e Deusas, nossos Reis e Rainhas, que nos oferecem, a cada momento, a certeza de que estamos no caminho da Verdade.

Como Zumbi dos Palmares, mantendo o povo unido no Quilombo, Yalorixás e Babalorixás sabem a luta e o sacrifício para manter cada Casa, orientando cada filho, tendo, a todo momento, de enfrentar intolerantes, racistas, ignorantes, interesseiros de um mundo mercantil que pretendem comprar a alma de cada pessoa, com promessas ilusórias e indignas.


Como aprendemos no solo sagrado
, cada filho/filha precisa ser cúmplice da Divindade e deve fazer a sua parte "de terra", cooperando com o movimento ancestral.

Assim, pedimos agô para solicitar:

1 - estimule filhos e filhas de Axé a participarem da Marcha Zumbi+10 que acontecerá em 16 de novembro, em Brasília.

Marcha Zumbi+10, contra o Racimo, pela Cidadania e pela Vida
Data: 16/11/2005, quarta-feira
Local: Esplanada dos Ministérios, Eixo Monumental – Brasília/DF
Horário: 9h às 22h
Há ônibus – com vagas gratuitas - saindo de vários estados/cidades do país.
Informações:
em Brasília: Edson Cardoso, 61-3447-1729 - irohin@terra.com.br; Regina Adami 61-3274-9575 / 61-2104-9367 - reginaadami@spmulheres.gov.br;
em São Paulo: Alzira Rufino 13-3221-2650 / 13-3223-2493 – ccmnegra@uol.com.br;
no Rio de Janeiro: Márcio Alexandre 21-8716-4603 - marcioalexandre@yahoo.com.br;
em Minas Gerais: Fátima Oliveira 31-3213-9097 - fatimao@medicina.ufmg.br;
em Pernambuco: Rebeca Oliveira - rebecaoliveiraduarte@yahoo.com.br;
na Bahia: Guellwaar - perolanegra@yahoo.com;
no Rio Grande do Sul – Maria Mulher - mariamulher@cpovo.net

Passagens aéreas, com desconto, podem ser solicitadas à empreendedora negra Lia Vieira - ashantiviagenseturismo@hotmail.com; liavieira@racial.zzn.com


Conheça as reivindicações – fruto de Encontro Nacional de Mulheres Negras – que levaremos à Brasília:
http://www.leliagonzalez.org.br/material/Mulheres_Negras_Doc_EncNac_CCMN_2005_Zumbi.pdf

2 – coopere, com qualquer quantia, para o aluguel de ônibus, para que mais negros e negras possam estar na Marcha exigindo nossos direitos, pela cidadania plena.

Banco do Brasil / Agência: 3240-9 / conta corrente nº 18431-4 / responsável pela conta “Maria Mulher - Organização de Mulheres Negras – RS”


3 – contate empreendedores negros e negras para cooperarem com a Marcha Zumbi+10, para cederem ônibus e atuarem com algum patrocínio para esta causa dos humanos direitos de nosso povo.

Todos os Orixás estarão junto conosco, seu povo, na Marcha Zumbi+10, em 16 de novembro de 2005.

Agô, Agô Lonan,

Axé,

Memória Lélia Gonzalez - presente na Marcha Zumbi+10, em 16 de novembro.

Até quando seremos pedintes?

Saímos da abolição falando, falando... Falamos, denunciamos o racismo, no entanto, continuamos no piniquismo, implorando para os não-negros apoiarem as nossas ações.

A realidade dessa histórica Marcha tem provado que querem continuar a apertar as algemas em nossos pulsos, negando-nos o direito de chegar até Brasília por falta de dinheiro. Ninguém chegará em Brasília à pé e no Distrito Federal é proibido andar à cavalo.

O negro não Marcha, caminha, ainda é dependente de apoios de não -negros.

Não conseguimos entender o que falamos, o que pregamos e o que fazemos?

Ainda não conseguimos conscientizar os poucos empresários negros, que para se fazer protestos por implementações dos acordos de Durban e Orçamento para Políticas Públicas precisa-se de dinheiro.

Ser Seppir é dar condições para que a ministra da pasta possua recursos financeiros para implementar nossas reivindicações já aprovadas em Durban e na I Conapir.

Precisamos transgredir os costumes que nos impuseram.

Seremos os eternos pedintes?

Ser signatário é fortalecer nos 365 dias, as ações das (os) empreendedores sociais e pequenos empresários negros, as teimosas(os) que não desistem, mesmo assistindo sua comunidade fortalecer o grande comércio branco.

A realidade mostra, que os eternos sensíveis à causa, que caminham ao lado do povo negro,ou melhor ,quase sempre à frente, não demonstram a chamada solidariedade quando se trata de sermos nós, as (os) protagonistas.

Ainda acreditamos na proposta, no aceite, na reflexão e o sim dos privilegiados. É como se não sentíssemos essa flor na pele tatuada .

Esses ônibus vem de quem?

As escolas de samba, centrais sindicais estão nas mãos de quem?

Independente de siglas somos o maior partido dessa história , companheiras (os). Somos a maior entidade sem classe desempregada no país.

Nós ainda acreditamos que o povo negro poderá realizar três refeições diárias, esse é um dos motivos por optar participar da Marcha Zumbi no dia 16.

Precisamos continuar a realizar articulações enegrecidas de liberdade, sem negociações, sem vender nossa dignidade e o nosso povo, em troca de favores futuros.

Nesse processo de mobilização da Marcha Zumbi + 10, muitos aliados não-negros estão mostrando a cara, são os oportunistas de plantão que sempre se esconderam no contexto do racismo cordial.

Em qualquer proposta racial, vale a pena reavivar a história de Palmares:

Na época de Zumbi, as alianças visavam eliminar um inimigo comum, não é o nosso caso. Amassamos lama, pixamos os muros, panfletamos e elegemos um governo democrático no qual ainda acreditamos. Vontade política tem que vir acompanhada de ações efetivas revestidas de verbas para execução.

Com medo de quem?

A causa não é partidária, é Negra!

Está difícil negociar?

Causa desgaste??

Perderemos aliados futuros?

Talvez sim, talvez não!

Entendo, que cada negro sindicalizado que paga suas contribuições, tem a liberdade garantida na Constituição do Brasil, as entidades de classe deveriam apoiar sim, o desconto sempre aparece no holerite no final do mês. Associações e agremiações, não deveriam dissociar os princípios da liberdade, da igualdade...

Cadê a solidariedade?

Ser sensível à causa é optar em ir reparando na falta de recurso para que seu , sua amiga ,sua doméstica, o motorista, a balconista negra possa lá chegar.

Quantos confinamentos na cozinhas, nos quartinhos dos fundos, sem tempo de afeto para nossos filhos, para que tantos filhos de leite pudessem hoje estar nas universidades?

Arrancando a venda dos olhos negrada!

Relembrando a lição:

"Agora é no corpo-a-corpo, sensibilizar sem truncar."

Sem timidez, sem medo de feliz SER!

Alzira Rufino
da Casa da Cultura da Mulher Negra e editora deste blog

A Autodeterminação do Movimento Negro


Por Olorode Ogiyán Kalafor (Jayro Pereira de Jesus)


"Talvez tenhamos vindo em navios diferentes

hoje estamos todos no mesmo barco"

Martin Luther King, militante norte-americanodos direitos civis (1929-68)

Em 1995, passei dois meses em Brasília (final de setembro, todo mês de outubro e até o final de novembro) colaborando com Edson Cardoso na organização da marcha dos 300 anos da ancestralidade de Zumbi, que agora em novembro de 2005 completa 10 anos. Por isso e outras razões e justificativas congrego o universo dos militantes que estão empenhados e trabalhando nos seus Estados para o sucesso da Marcha Zumbi + 10, a realizar-se no dia 16/11/2005. Porém, vejo com muita tristeza e pesar a divisão do Movimento Negro brasileiro, traduzida agora em duas marchas.


A tristeza redobra por constatar o prazer, ou o quase orgasmos dos setores do MN que estão organizando a marcha do dia 22. Mediante esse fator tenho tentado entender os motivos desse prazer e contentamento advindos de negros que se dizem ativistas da luta contra o racismo e seus desdobramentos. Desprezo veementemente a idéia que permeia a visão da sociedade branca de que o antagonismo reinante no seio da comunidade negra se inscreve como um pressuposto inerente, uma condição atávica, que tem no primitivismo como sinônimo de ausência de valores civilizatórios e civilizacionais. A sociedade racista também afirmou que a escravidão só foi possível por conta desse tribalismo autofágico, que atestam como êmico dos povos africanos. Eles (os racistas) dizem que esses elementos prosseguem como num continuum na diáspora, interferindo na dinâmica do MN.


O racismo nos moldes brasileiros não tem sido o suficiente para nos unir. Aliás, nem na África do Sul, o apartheid foi combatido por toda a população negra daquele país. Havia um grupo que compartilhava ou negociava outras formas com o poder branco do apartheid. Comungo do ideário dos que pesquisam e estudam valores civilizatórios e civilizacionais africanos, bem como os pressupostos teológico e filosófico das culturas negras em geral, constatando mais elementos invariantes do que variantes e que a se nortear pela concepção da cosmovisão africana no tocante a sua visão de mundo, a unidade de todos os entes que compõem o cosmo é uma condição para a não desagregação do mesmo. Devido a sacralidade da Existência, a vida enquanto considerada como bimítica ou antropotheogônica, deve obedecer a uma regulamentação ritual de extremada observância, para desta forma manter o equilíbrio cosmológico. A constatação é a de que uma boa parte de nos militantes negros somos efetivamente destituídos destes valores civilizatórios africanos, a despeito dos nossos discursos de negritudes ou algo de similar como afirmação identitária.


Somos desafricanizados (Paulo Freire), fomos atingidos pelo epistemícidio (Boaventura Santos) e alvos da glotofazia (Jean-Louis Calvet). Nos destituímos dos ditames simbólicos e nos tornamos diabólicos (aquele que separa no sentido judaico cristão). Em cima disso, o neopentecostalismo trabalha. Sobrevivemos num mar de contradições trafegando numa tríade que não tem saúde mental que suporte: afirmação, negação e desumanização. Me explico: tentamos ser ocidentais e eles os brancos não nos aceitam. Não sabemos como viver africanamente e por isso vivemos num dilema. Esse drama nos coloca à mercê dos partidos e das suas incongruências e assim o descalabro é geral.


A marcha de 16/11/2005 possibilita um reordenamento do Movimento Negro no Brasil, configurando assim uma nova era na luta contra o racismo e a marginalidade social, política e econômica da população negra no país.