Marcha Zumbi +10

Espaço para divulgação da Marcha Zumbi +10, que ocorrerá no dia 16 de novembro de 2005, junto aos meios de comunicação, militância, mundo acadêmico entre outros.

11.21.2005

Em busca de reparação

Centenas de afrodescendentes festejaram o Dia da Consciência Negra nas ruas do Centro Histórico

A Caminhada da Liberdade reuniu centenas de afrodescendentes unidos em torno da busca da reparação

Ao som do Malê Debalê e do Ilê Aiyê, centenas de afrodescendentes desceram ontem, pela manhã, a Avenida Lima e Silva, na Liberdade, em direção à Lapinha, passando pelo Santo Antônio até chegarem ao Pelourinho. O objetivo era celebrar os 310 anos da morte de Zumbi dos Palmares e o Dia da Consciência Negra. Esta foi a 5a edição da Caminhada da Liberdade, organizada pelo Fórum de Entidades Negras da Bahia, que este ano teve como tema Reparação já: Dêvotos... e repare!.

O tema da caminhada deste ano visa contribuir para uma reflexão sobre os negros no poder. "Os negros não podem servir só para eleger políticos, mas que eles mesmos sejam votados como prefeitos, governadores. Temos poucos representantes no poder", afirmou o presidente do Malê, Josélio de Araújo.

Ele disse ainda que nestes cinco anos de caminhada, os objetivos do movimento têm se tornado públicos. "Em 1978, tomamos consciência do movimento negro, da discriminação racial. Hoje não precisamos pedir nada a ninguém, nem ao poder público para que nos ajude. Não precisamos estar com a cuia na mão pedindo esmola", frisou Araújo.

E prosseguiu, contando a história de Zumbi. "Em 20 de novembro, ocorreu a morte de Zumbi dos Palmares, o grande líder negro. Zumbi foi um negro que acolheu outros na miséria da escravidão para se juntar à coletividade li-bertária. Hoje, a maioria dos negros ainda não come e há a minoria que não dorme por causa dessa maioria", finalizou.

Consolidação - Para Vovô do Ilê, "a caminhada já é uma realidade". Segundo ele, o fórum está cada vez mais consolidado e a luta se estendeu da organização carnavalesca para outras áreas, como a educação - através de palestras e seminários. "Já temos uma parceria com a prefeitura, vamos fechar agora uma parceria com a Ufba. Nós entendemos que a academia pode nos aparelhar mais e levar a questão racial para ser discutida no interior dela", explicou.

O coordenador geral do Fórum de Entidades Negras, Walmir França, disse que é sempre um prazer realizar esse tipo de atividade. "Resgatar a memória de Zumbi, lembrar da definição de um dia idealizado pelo movimento negro; e de quando houve o primeiro encontro do movimento negro em Salvador. Para mim, é muita emoção", afirmou. Ele acrescentou que a caminhada é uma forma de denunciar que o fórum está buscando políticas públicas em diversas áreas para a comunidade negra.

"Nós percebemos alguns avanços nestes anos de lutas. Em 2001, foi criada a Secretaria Municipal da Reparação; em 2002, a Uneb instituiu o sistema de cotas para afrodescendentes", disse orgulhoso. França lembrou que, em 2003, começou a discussão da questão de emprego e renda. "Várias pesquisas foram feitas porque o branco ganhava 50% a mais do que o negro; e também sobre o atendimento médico e outros setores de nossa sociedade". Ele deu exemplo de um projeto que está sendo desenvolvido nas polícias Militar e Civil, para identificar dados de discriminação racial na ação policial.

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FÓRUM

Segundo dados do Informativo Oficial do Fórum, na conjuntura socioeconômica e de pobreza, a proporção de negras e negros abaixo da linha da pobreza é de 50%, enquanto que a população branca é de 25%, desde 1995. O fórum vem, há cinco anos, lutando por reparação para o povo negro brasileiro, com programas que erradiquem mecanismos de reprodução das desigualdades raciais. A exemplo dos anos anteriores, o fórum trocou dez mil camisetas com o slogan da 5a caminhada por alimentos não-perecíveis, que serão distribuídos em creches e associações de bairros.


Povo-de-santo faz marcha pela liberdade religiosa


Jane Fernandes

Eles cansaram de tolerar olhares desconfiados, palavras ofensivas e atos contra a sua fé - esta é a indignação do povo-de-santo diante do preconceito que recai sobre seus colares, suas roupas brancas e seus ritos ganhou as ruas da cidade. Era a marcha O Povo Negro Unido pela Vida e Liberdade Religiosa. Embaladas por agogôs, tambores e atabaques, centenas de pessoas rumaram, ontem pela manhã, do Engenho Velho da Federação ao Dique do Tororó dizendo não a qualquer tipo de discriminação.

Dando provas de que todas as crenças devem ser respeitadas, o ato de celebração e protesto contou com a presença do padre Alfredo Dórea, da Paróquia de Brotas. Ele foi um dos que lançaram pombas brancas aos céus, durante a solenidade de abertura da caminhada. O sacerdote católico estava em frente à estátua de mãe Runhó - antiga ialorixá do Terreiro de Bogum, que até hoje funciona no bairro - quando foram feitas as saudações aos orixás. Antes de tudo, vivas a Exu, senhor dos caminhos e depois milho branco para Oxalá.

No centro da praça, estava a legítima herdeira do Bogum, Iracema de Melo, mais conhecida como mãe Índia. Emocionada com a homenagem à sua avó, ela apenas pediu a proteção dos deuses africanos. "Gostaria de saudar essa senhora que tanto sofreu para que hoje possamos estar aqui", reverenciou o babalorixá Sivanilton da Mata, se referindo a toda perseguição policial sofrida no século passado. Foi em seu terreiro, o Oxumarê, que o projeto da marcha nasceu e em um instante a idéia se consolidou.

Igualdade - "Queremos mudar um pouco a cara desta cidade, queremos paz e igualdade", pediu o pai-de-santo. A voz do povo banto também esteve no centro do evento. Representando o terreiro Tanuri Juçara, Esmeraldo de Santana, disse que sua gente jamais poderia estar fora dessa luta por igualdade. Sua grande expectativa é de que o evento pudesse chamar a atenção da sociedade e dos poderes públicos para a questão da intolerância religiosa.

Certo de que a discriminação às crenças afro-brasileiras fere os princípios democráticos, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seção Bahia, Dinailton Oliveira juntou-se ao ato. "Buscamos estar presentes em todos os movimentos que promovam o crescimento da sociedade e a ampliação da democracia", explicou. Após descerem a Ladeira do Bogum até a Avenida Vasco da Gama, sob sol escaldante, os participantes receberam o reforço de um trio elétrico.

Dos potentes alto-falantes ecoavam as reivindicações do povo reunido pelo Coletivo de Entidades Negras (CEN) para dar um abraço simbólico ao "Dique dos Orixás". "Nossa intenção é mostrar toda a afetividade que temos com o lugar", disse Marcos Rezende, coordenador geral da CEN. Entre o povo-de-santo não há dúvida de que aquelas águas esverdeadas, onde os orixás feitos por Tati Moreno atraem os olhares, constituem um espaço sagrado. Afinal, como registrou mãe Runhó: "Sem água, sem mata, o gege não sobrevive". Os candomblés de outra nações também não.

20/11 18:12
Fórum de Educação Étnico-Racial em Candeias

Para marcar a passagem do Dia Nacional de Consciência Negra, a Prefeitura Municipal de Candeias, através da Secretaria de Educação e Cultura, realiza o I Fórum de Educação Étnico-Racial e Cultural. O evento, que tem como tema 'Igualdade racial e a melhoria de vida da nação' acontece de 22 a 25 de novembro, na quadra Prof. José Cardoso. A proposta é discutir novos enfoques de políticas públicas relacionadas à posição do negro na sociedade. Várias autoridades do universo acadêmico participarão das discussões, como os professores, Ronalda Barreto e Vilson Caetano, da UNEB, e Climene Camargo, da UFBA, entre outros. Eles tratarão de temas que envolvem ações afirmativas, de responsabilidade social e desenvolvimento local, políticas de combate ao racismo, a Lei 10.639 e a educação de Candeias.

Fonte: Correio da Bahia, 21.11.2005