Marcha Zumbi +10

Espaço para divulgação da Marcha Zumbi +10, que ocorrerá no dia 16 de novembro de 2005, junto aos meios de comunicação, militância, mundo acadêmico entre outros.

11.22.2005

Mulheres negras destacam-se na mobilização





Image A Marcha Zumbi +10, realizada no último dia 16, em Brasília, foi construída com a contribuição e um grande esforço e investimento das mulheres negras e de suas organizações e articulações. Este é um aspecto importante no balanço de sua realização, onde se ressalta a autonomia dos movimentos em todo o processo.

Entre os resultados da Marcha, está o compromisso da ministra Nilcéia Freire, da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, de organizar um debate sobre o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, na perspectiva da mulher negra. Esta atividade será realizada em dezembro e foi definida em audiência da ministra com várias redes e articulações do movimento de mulheres - entre as quais: a AMNB, o Fórum Nacional de Mulheres Negras, a Rede Feminista de Saúde e a AMB.

Depois de dez anos da Marcha Zumbi dos Palmares Contra o Racismo e pela Cidadania, na qual compareceram caravanas de militantes de todos os estados do Brasil, para a apresentação e entrega de um documento com proposições de políticas ao então presidente Fernando Henrique Cardoso, a Marcha Zumbi +10, realizada dia 16, foi marcada novamente por um tom de crítica à atual política do Governo Federal.

Nessa crítica, coloca-se a insuficiência da criação de um órgão, como a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR, pois em que pese seu caráter simbólico, não se verificou, até o momento, o aporte de recursos necessário à imple-mentação de políticas de reparação ao povo negro.

No âmbito do Legislativo, a aprovação de um Estatuto da Igualdade Racial sem os mecanismos de

financiamento para políticas voltadas à superação da desigualdade racial apenas reforça o quadro de descompromisso do Estado com o enfrentamento da desigualdade de raça, em suas várias expressões.

Frente a este contexto e aos alarmantes indicadores sobre a população negra em diversas áreas, como os destacados na pesquisa Ipea-Unifem (nota nesta edição) e pela Folha de São Paulo (veja box), as e os militantes presentes à Marcha Zumbi +10 reivindicaram, entre outras propostas, a criação de um fundo de promoção da igualdade racial, originalmente presente no texto do Estatuto da Igualdade Racial. Mas, para que isso se materialize será preciso que o Governo Federal reveja suas prioridades, garantindo os recursos necessários. Na opinião de Schuma Schumaher (Redeh/AMB), a luta contra o racismo deve ser uma luta de todos e de todas, já que é uma reivindicação por justiça social.

Audiências

Enquanto a Marcha acontecia em Brasília, mobilizando cerca de 8 mil militantes, uma comitiva de lideranças do movimento negro percorria a Esplanada dos Ministérios para audiências com as ministras Nilcéia Freire (SPM) e Matilde Ribeiro (Seppir) e com os ministros Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Luiz Dulci (chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República). A comitiva também foi recebida pelo presidente da Câmara, Aldo Rebelo, e pelo presidente Lula, para o qual foi apresentado um documento contendo observações sobre as ações do governo e um conjunto de proposições do movimento.

A distância entre um Brasil negro e um Brasil branco

O Relatório de Desenvolvimento Humano 2005 – Racismo, Pobreza e Violência, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), na última sexta (18), denuncia o enorme distanciamento da população negra e branca, dentro no ranking que mede o desenvolvimento social no mundo, num conjunto de 173 países.

Quando o Brasil é analisado apenas a partir de dados referentes à população branca, ocupa o 44º lugar. Mas quando são considerados os indicadores da população negra, o país assume a 105ª posição nesse ranking, demonstrando as profundas desigualdades que possui. Mesmo em seu conjunto de indicadores para toda a população, o Brasil ocupa a 73ª posição, ficando inclusive distante de outros países da América Latina, como Argentina (34ª posição), Uruguai (40º) e México (54ª).

Retrato da desigualdade a situação da mulher negra no Brasil


Para marcar o Dia Nacional da Consciência Negra (dia 20/11), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem) divulgaram, na última quinta (17), no Ministério da Cultura (Brasília), os resultados da pesquisa “Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça”, desenvolvida de março a outubro deste ano.

A pesquisa teve como motivação inicial a de apontar as desigualdades entre negros e brancos e entre homens e mulheres nos mais diferentes espaços da sociedade. O estudo apresenta tabelas e infográficos construídos com dados de uma década (1993-2003), englobando os principais aspectos das áreas de educação, saúde, previdência social, emprego, renda, trabalho doméstico, habitação, saneamento, acesso a bens duráveis, exclusão digital, pobreza e desigualdade de renda.

De acordo com Vera Soares, coordenadora de Projeto do Unifem e responsável pela pesquisa na instituição, as principais conclusões do estudo indicam que as mulheres negras sofrem uma discriminação composta: a discriminação de gênero que se articula com a de raça, deixando-as em pior situação em quase todos os aspectos estudados. Para dar um exemplo, Vera destaca que 58% das mulheres negras com idade acima de 40 anos, no Nordeste, nunca tiveram acesso a exame clínico de mama.

Depois do lançamento em Brasília, o Unifem seguirá divulgando a pesquisa para seus parceiros estratégicos, a exemplo das organizações de mulheres e outras da sociedade civil e do governo. Para Vera Soares, a presença da ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e do presidente do IPEA, Glauco Arbix, no ato realizado (dia 17) sinaliza que a pesquisa deverá contribuir para a construção de diagnósticos vinculados à formulação de políticas públicas.

No caso das organizações da sociedade, a perspectiva do Unifem é contribuir para que se apropriem de informações que possam fortalecer sua capacidade de pressão por políticas de combate às desigualdades de gênero e de raça.

Mais informações: www.ipea.gov.br ou pelos fones: (61) 3038-9291 (Unifem) / (61) 3315-05122/3315-5282 (Ipea).