Marcha Zumbi +10

Espaço para divulgação da Marcha Zumbi +10, que ocorrerá no dia 16 de novembro de 2005, junto aos meios de comunicação, militância, mundo acadêmico entre outros.

10.31.2005

Até quando seremos pedintes?

Saímos da abolição falando, falando... Falamos, denunciamos o racismo, no entanto, continuamos no piniquismo, implorando para os não-negros apoiarem as nossas ações.

A realidade dessa histórica Marcha tem provado que querem continuar a apertar as algemas em nossos pulsos, negando-nos o direito de chegar até Brasília por falta de dinheiro. Ninguém chegará em Brasília à pé e no Distrito Federal é proibido andar à cavalo.

O negro não Marcha, caminha, ainda é dependente de apoios de não -negros.

Não conseguimos entender o que falamos, o que pregamos e o que fazemos?

Ainda não conseguimos conscientizar os poucos empresários negros, que para se fazer protestos por implementações dos acordos de Durban e Orçamento para Políticas Públicas precisa-se de dinheiro.

Ser Seppir é dar condições para que a ministra da pasta possua recursos financeiros para implementar nossas reivindicações já aprovadas em Durban e na I Conapir.

Precisamos transgredir os costumes que nos impuseram.

Seremos os eternos pedintes?

Ser signatário é fortalecer nos 365 dias, as ações das (os) empreendedores sociais e pequenos empresários negros, as teimosas(os) que não desistem, mesmo assistindo sua comunidade fortalecer o grande comércio branco.

A realidade mostra, que os eternos sensíveis à causa, que caminham ao lado do povo negro,ou melhor ,quase sempre à frente, não demonstram a chamada solidariedade quando se trata de sermos nós, as (os) protagonistas.

Ainda acreditamos na proposta, no aceite, na reflexão e o sim dos privilegiados. É como se não sentíssemos essa flor na pele tatuada .

Esses ônibus vem de quem?

As escolas de samba, centrais sindicais estão nas mãos de quem?

Independente de siglas somos o maior partido dessa história , companheiras (os). Somos a maior entidade sem classe desempregada no país.

Nós ainda acreditamos que o povo negro poderá realizar três refeições diárias, esse é um dos motivos por optar participar da Marcha Zumbi no dia 16.

Precisamos continuar a realizar articulações enegrecidas de liberdade, sem negociações, sem vender nossa dignidade e o nosso povo, em troca de favores futuros.

Nesse processo de mobilização da Marcha Zumbi + 10, muitos aliados não-negros estão mostrando a cara, são os oportunistas de plantão que sempre se esconderam no contexto do racismo cordial.

Em qualquer proposta racial, vale a pena reavivar a história de Palmares:

Na época de Zumbi, as alianças visavam eliminar um inimigo comum, não é o nosso caso. Amassamos lama, pixamos os muros, panfletamos e elegemos um governo democrático no qual ainda acreditamos. Vontade política tem que vir acompanhada de ações efetivas revestidas de verbas para execução.

Com medo de quem?

A causa não é partidária, é Negra!

Está difícil negociar?

Causa desgaste??

Perderemos aliados futuros?

Talvez sim, talvez não!

Entendo, que cada negro sindicalizado que paga suas contribuições, tem a liberdade garantida na Constituição do Brasil, as entidades de classe deveriam apoiar sim, o desconto sempre aparece no holerite no final do mês. Associações e agremiações, não deveriam dissociar os princípios da liberdade, da igualdade...

Cadê a solidariedade?

Ser sensível à causa é optar em ir reparando na falta de recurso para que seu , sua amiga ,sua doméstica, o motorista, a balconista negra possa lá chegar.

Quantos confinamentos na cozinhas, nos quartinhos dos fundos, sem tempo de afeto para nossos filhos, para que tantos filhos de leite pudessem hoje estar nas universidades?

Arrancando a venda dos olhos negrada!

Relembrando a lição:

"Agora é no corpo-a-corpo, sensibilizar sem truncar."

Sem timidez, sem medo de feliz SER!

Alzira Rufino
da Casa da Cultura da Mulher Negra e editora deste blog