Marcha Zumbi +10

Espaço para divulgação da Marcha Zumbi +10, que ocorrerá no dia 16 de novembro de 2005, junto aos meios de comunicação, militância, mundo acadêmico entre outros.

11.18.2005

Marcha Zumbi+10 vai ao Planalto

Jornal Tribuna da Imprensa

BRASÍLIA - Representantes do movimento negro, que participaram ontem, na Esplanada dos Ministérios, da Marcha Zumbi+10 contra o Racismo e pelo Direito à Vida, foram ao Palácio do Planalto para um encontro com o secretário-geral da Presidência da República, ministro Luiz Dulci. Eles entregarão ao ministro um documento, para ser levado ao presidente Lula, com o diagnóstico das desigualdades raciais no Brasil. No documento, os militantes apresentam sugestões de políticas públicas para superação das desigualdades.

Segundo o editor do jornal da organização não-governamental (ONG) Irohin, Edson Lopes Cardoso, também consta do documento um levantamento com o custo do racismo no Brasil. "Nós fizemos um estudo a partir de três indicadores - saneamento, habitação e educação - em que há grande desigualdade de acesso de brancos e negros e sugerimos valores. Poderiam constar do Orçamento da União, para superar essas desigualdades, R$ 67,2 bilhões", afirmou Cardoso.

Ele chegou ao Palácio do Planalto acompanhado de representantes dos Kalungas (comunidade quilombolas do estado de Goiás), do Centro de Cultura Negra do Maranhão, do Fórum de Entidades Negras de Pernambuco, do Instituto de Advogados Negros do Rio de Janeiro e da Afro-Press.

"Não é possível reverter o quadro de desigualdade racial no Brasil sem a adoção de políticas de diversidade que incluam, preferencialmente, mulheres e homens negros nas camadas sociais superiores". A afirmação é da diretora do Geledés - Instituto da Mulher Negra, Sueli Carneiro.

Para protestar contra racismo e reivindicar o avanço das políticas de promoção da igualdade racial, cerca de seis mil pessoas marcharam ontem em frente ao Congresso Nacional. A caminhada marca os 310 anos do assassinato de Zumbi dos Palmares.

Segundo Sueli Carneiro, falta "vontade política e compromisso" para solucionar o problema. "O governo brasileiro precisa enfrentar a questão com a radicalidade que ela exige porque a questão racial é uma componente essencial para a realização da democracia", observa.

A primeira Marcha Zumbi contra o Racismo foi realizada em 1995. Para Carneiro, ao longo desses dez anos a mobilização contribuiu para o aumento da visibilidade do problema racial no Brasil e com algumas iniciativas de políticas públicas, mas "tudo com um caráter eminentemente simbólico que não ataca as raízes das desigualdades que é o racismo estrutural e a discriminação racial".

De acordo com dados do Atlas Racial Brasileiro de 2004, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), 65% dos pobres e 70% dos indigentes brasileiros são negros. O mesmo estudo revela que continua a desigualdade na expectativa de vida da população em comparação com de brancos. A perspectiva de vida para uma pessoa negra nascida em 2000 é 5,3 anos menor que para uma branca.

Segundo a militante, os negros brasileiros estão sendo dizimados. "O que está acontecendo é o extermínio da população negra. A taxa de mortalidade materna é extraordinária no País. Isso continua impune e atinge de forma absoluta e majoritária a população negra", argumenta.

Ela acrescentou também que nos últimos anos o problema da violência se agravou. "É uma situação semelhante a de genocídio, sobretudo em relação à população jovem negra das grandes capitais do Brasil."

Para protestar contra a violência sofrida pelos negros, participantes da marcha colocaram 300 cruzes pintadas de preto no gramado que fica em frente ao Congresso Nacional.