Marcha por reparações
Em 16 de novembro, organizações autônomas que lutam contra o racismo, vindas de todo o Brasil, por sua própria conta, farão a Marcha Zumbi + 10 em Brasília, como parte das atividades em todo o país relativas ao 20 de novembro – Dia Nacional da Consciência Negra.
Marcharemos em memória de Zumbi, dez anos após a primeira marcha (1995), marco oficial das primeiras ações governamentais focadas no povo negro. Para quem não sabe, ou esqueceu, o Brasil possui o maior contingente de população negra fora da África e só há um país no mundo com mais negros que o Brasil: a Nigéria.
Somos a segunda maior nação negra do mundo, o que deveria significar alguma coisa em termos de projeto de nação. Mas jamais significou, pois somos um país que reserva ao seu povo negro as piores condições de vida e uma cidadania ainda de segunda categoria.
Marcharemos dia 16 de novembro no Planalto Central, destacando em alto e bom som que o Estado brasileiro nos deve muito e compreendemos que, embora o governo tenha revelado intenções de superar o racismo entranhado no aparelho do Estado e na sociedade, até agora não houve nenhum aceno no sentido de ampliar a capacidade do Estado rumo ao estabelecimento de uma cultura social e política anti-racista.
O governo se contenta com as migalhas que oferece e exige uma sessão beija-pés pela criação de um desempoderado e desendinheirado órgão de Estado para a “questão racial”, que se sustenta nos malabarismos de passa chapéu num ministério aqui e noutro acolá, sem conseguir alguma unidade racional às poucas, pontuais e dispersas políticas públicas sob a grife de “ação afirmativa”.
O que é pouco. Urge que saiba e amplie a consciência de que o povo negro não aceita ações cosméticas na erva daninha que é o racismo.
Marcharemos sobre Brasília no dia 16 para que os governos, em todos os âmbitos, se dêem conta que não queremos favores e nem caridade, apenas o que temos direito: reparações.
Isto é, políticas públicas que garantam o exercício da cidadania, pois como disse Wânia Sant’Anna: “Se Palmares e outros quilombos fizeram a sua parte, cabe a nós, na atualidade, fazer a nossa. Palmares e os outros quilombos foram, ao seu tempo, protesto. Cabe a nós relembrar-lhes a história e manter viva a idéia e o ideal de protesto – comemoração/ protesto. E, na minha opinião, é isso que representa ocupar, em protesto, as ruas para sua justa homenagem” (in “Marcha Zumbi 10 – Protesto e autonomia, ou que se guardem os tubinhos e terninhos”).<www.marchazumbimais10.blogspot.com>
Fonte: www.otempo.com.br/opiniao/lerMateria/?idMateria=15049
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