Marcha Zumbi +10

Espaço para divulgação da Marcha Zumbi +10, que ocorrerá no dia 16 de novembro de 2005, junto aos meios de comunicação, militância, mundo acadêmico entre outros.

10.26.2005

Marcha por reparações

Fátima Oliveira

Em 16 de novembro, organizações autônomas que lutam contra o racismo, vindas de todo o Brasil, por sua própria conta, farão a Marcha Zumbi + 10 em Brasília, como parte das atividades em todo o país relativas ao 20 de novembro – Dia Nacional da Consciência Negra.

Marcharemos em memória de Zumbi, dez anos após a primeira marcha (1995), marco oficial das primeiras ações governamentais focadas no povo negro. Para quem não sabe, ou esqueceu, o Brasil possui o maior contingente de população negra fora da África e só há um país no mundo com mais negros que o Brasil: a Nigéria.

Somos a segunda maior nação negra do mundo, o que deveria significar alguma coisa em termos de projeto de nação. Mas jamais significou, pois somos um país que reserva ao seu povo negro as piores condições de vida e uma cidadania ainda de segunda categoria.

Marcharemos dia 16 de novembro no Planalto Central, destacando em alto e bom som que o Estado brasileiro nos deve muito e compreendemos que, embora o governo tenha revelado intenções de superar o racismo entranhado no aparelho do Estado e na sociedade, até agora não houve nenhum aceno no sentido de ampliar a capacidade do Estado rumo ao estabelecimento de uma cultura social e política anti-racista.

O governo se contenta com as migalhas que oferece e exige uma sessão beija-pés pela criação de um desempoderado e desendinheirado órgão de Estado para a “questão racial”, que se sustenta nos malabarismos de passa chapéu num ministério aqui e noutro acolá, sem conseguir alguma unidade racional às poucas, pontuais e dispersas políticas públicas sob a grife de “ação afirmativa”.

O que é pouco. Urge que saiba e amplie a consciência de que o povo negro não aceita ações cosméticas na erva daninha que é o racismo.

Marcharemos sobre Brasília no dia 16 para que os governos, em todos os âmbitos, se dêem conta que não queremos favores e nem caridade, apenas o que temos direito: reparações.

Isto é, políticas públicas que garantam o exercício da cidadania, pois como disse Wânia Sant’Anna: “Se Palmares e outros quilombos fizeram a sua parte, cabe a nós, na atualidade, fazer a nossa. Palmares e os outros quilombos foram, ao seu tempo, protesto. Cabe a nós relembrar-lhes a história e manter viva a idéia e o ideal de protesto – comemoração/ protesto. E, na minha opinião, é isso que representa ocupar, em protesto, as ruas para sua justa homenagem” (in “Marcha Zumbi 10 – Protesto e autonomia, ou que se guardem os tubinhos e terninhos”).<www.marchazumbimais10.blogspot.com>

Fonte: www.otempo.com.br/opiniao/lerMateria/?idMateria=15049