Marcha Zumbi +10

Espaço para divulgação da Marcha Zumbi +10, que ocorrerá no dia 16 de novembro de 2005, junto aos meios de comunicação, militância, mundo acadêmico entre outros.

10.11.2005

Entrevista - Frei David ao Afropress


Por: Frei David - 08/10/2005

S. Paulo – Para o Frei David Raimundo dos Santos, diretor executivo da Educafro – entidade com Núcleos em todo o país, 184 dos quais em S. Paulo -, as lideranças das duas Marchas estão ausentes das lutas do dia a dia. Ele disse que a Educafro não participará. Veja, na íntegra, a entrevista.


Afropress - Qual a posição que o senhor e a Educafro adotaram em relação à Marcha Zumbi + 10? Estão articulando como data o 16/11 ou o 22/11, datas que refletem diferentes posições políticas no Movimento?

Frei David - A comunidade negra, assim como qualquer grupo humano, tem o direito de ter posições divergentes entre si. O fato de sermos negros não nos “bitola” a termos um só pensamento e um só interesse. A diversidade é própria do humano. Isto não tem solução. Constroem-se consensos temporários em função de propostas concretas materializadas. Quais as propostas de cada grupo? Em que são diferentes?

As lideranças em litígio estão de olho no amanhã e as instabilidades da macro-política não permitem negociar. Neste contexto, só é possível unidade se um dos lados ceder. Aceitar antecipadamente perder ou retroceder é uma atitude normalmente possível para quem vê longe, como Jesus Cristo. Não dá para exigir de setores do movimento negro atitudes a “la Jesus Cristo”. A divergência sempre será nossa companheira de caminhada...

Na última reunião geral, com a participação de mais de mil representantes dos 184 núcleos da Educafro em São Paulo, após longos debates em pequenos grupos e na plenária, 92% dos presentes decidiu não apoiar nem o dia 16 e nem o dia 22.


Afropress - Porque são a favor de uma ou de outra data?

Frei David - A família Educafro está um pouco chateada... Na verdade, a Educafro é a favor que o interesse público, do povo negro, esteja acima de interesses de pessoas ou de grupos. Nas mais de 10 difíceis reuniões que aconteceram no MEC e na Câmara Federal, para debater as ações afirmativas/cotas, apesar dos nossos apelos, nenhum dos líderes do dia 16 ou do dia 22 se fez presente ou enviou pessoas para ajudarem na luta.

A Educafro distribuiu uma carta, em uma das reuniões de organização, propondo um novo foco para a marcha. Não veio resposta até hoje (vide carta abaixo).

Afropress - O senhor foi signatário de um documento, junto com lideranças da base do Governo Lula, entre as quais Stédile, do MST, lançado no início do escândalo do mensalão, em que falava-se de golpe branco da direita e da mídia? Ainda tem a mesma posição, depois de tudo o que se sabe a respeito do escândalo?

Frei David - Durante a última campanha presidencial, vi uma entrevista, num canal internacional, onde o entrevistado falava que o Brasil e demais paises em desenvolvimento poderiam eleger até Jesus Cristo que quase nada iria mudar. Segundo sua fala, quase 90% das decisões econômicas são tomadas nas reuniões das empresas transnacionais e em seus organismos financeiros internacionais. Assim, os governantes locais não têm muita autonomia para implantar políticas independentes, voltadas para o seu povo. Uma tentativa de entendimento dos erros do Governo LULA liga-se com este cenário internacional. Ter maioria para fazer as mudanças que o Brasil precisa foi a motivação para estes absurdos que nos envergonham. Nas próximas eleições, seja quem for que estiver na frente, os grupos organizados da sociedade deverão discutir com firmeza a importância de se conceder ao partido do futuro presidente a maioria e, assim, evitar as negociatas semelhantes às que derrubaram setores do Governo Alemão e que hoje ameaçam o Governo LULA. Os últimos 5 presidentes, inclusive FHC, caíram no mesmo erro, em graus diferentes. Temos que mudar a política viciada da barganha que se implantou neste país nestes últimos 20 anos. Podemos e devemos mudar, iniciando com a rigorosa punição dos corruptos de ontem e de hoje.

Afropress - Que posição o senhor acha que o Movimento Negro deve ter em relação a este Governo?

Frei David - O movimento negro maduro sabe-se plural. Deve torcer para que os negros alinhados a quem está no poder façam a coisa certa para seu povo. Devemos estar firmes e coesos em cada partido. É importante amadurecer a pauta de alianças suprapartidárias. As pretensas propostas suprapartidárias que têm sido colocadas à mesa têm uma carga de desrespeito para com o outro, pois quase que exige a submissão/aniquilação do grupo que pensa diferente.

Afropress - Como vê a posição do Governo em relação à política de cotas no ensino superior?

Frei David - O governo está sofrendo pressões de todos os lados. A Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior) possui um poder que o movimento negro não o considerou suficientemente. O MEC corre o perigo de ter que “comer milho” nas mãos da Andifes. O MEC acordou com os movimentos sociais uma coisa e a Andifes teve o poder de fazer o MEC mudar. É salutar que o MEC mantenha-se firme no propósito de garantir o princípio da autonomia universitária, desde que esta autonomia seja usada para incluir e não para excluir negros e pobres. Na implantação da política de cotas, esperamos que o MEC encontre o equilíbrio destas forças, a favor de um país mais justo e diverso.


Afropress - Qual deve ser, na sua opinião, a posição do Movimento Negro em relação aos Partidos e aos Governos?

Frei David - Uma relação de respeito para com cada negro que estiver atuando em qualquer governo/partido de direita ou de esquerda. Principalmente com os governos/partidos que tiveram a capacidade de apoiar a organização dos negros/as dentro da estrutura partidária, como o TUCANAFRO, Secretaria do Negro do PT, etc.

Fazer o partido servir à causa do nosso povo deve ser a estratégia de cada negro militante. Quando o PSDB esteve na Presidência, ainda não havia um TUCANAFRO com potencial para fazer avançar as pautas da comunidade. Parece-nos que hoje há outra força configurada no TUCANAFRO. O mesmo não se pode falar do PT. Se as pautas da nossa comunidade não avançarem no atual governo, os negros do PT poderão ser responsabilizados por falta de iniciativas ou por erro de estratégia/articulação. Aplaudir cada negro/entidade que, em seu partido e demais espaços, faz as coisas andarem em prol da comunidade é um bom sinal de maturidade de nossa comunidade. O mesmo se diz do negro que está na Igreja católica, candomblé, Igrejas evangélicas, etc. Onde estiver um negro consciente, ali avançará a causa e o compromisso. Toda sociedade sai ganhando.


Afropress - Que avaliação faz da Seppir e da Ministra Matilde Ribeiro à frente da Secretaria?

Frei David - Ninguém faz milagres sem dinheiro. O problema da SEPPIR é falta de verba para investimento. Com a pouca estrutura que tem, só é possível fazer avançar se a equipe de trabalho for convicta, bem entrosada e que se doe, apesar de ser um serviço público, libertando-se da postura de empreguismo, e tiver uma postura ética no manuseio dos bens públicos. É fundamental saber caminhar com a comunidade negra sem se deixar levar por uma postura antiética de beneficiar preferencialmente pessoas do partido e do grupo de apoio. Este é um dos maiores erros que uma pessoa em cargo político pode cometer. Se ela conseguir isto dela e da equipe vai ser possível avançar e marcar positivamente sua passagem pelo governo. Quanto mais for articulada, com autoridade natural, com liderança entre o seu povo, um cargo como este na SEPPIR pode render bons resultados de apoio à comunidade negra.

Afropress - O senhor foi um dos críticos do Programa Diversidade no MEC, quando foi adotado em 2002 pelo Governo FHC. Qual a avaliação que faz hoje, três anos depois, sob o Governo Lula?

Frei David - Já briguei muito com o MEC, pedindo que o programa mudasse seu foco. Não consegui vitória. A nossa proposta era e é esta: que, com este dinheiro, o MEC organizasse em todos os CEFETs e Escolas Técnicas federais do Brasil um cursinho pré-vestibular para negros, usando a estrutura física destes estabelecimentos federais e produzindo um material didático de qualidade e com o perfil apropriado ao povo negro. Estranhamente, preferiram continuar naquilo que o governo FHC planejou, o que discordei no tempo de FHC e discordo hoje.

No momento, estou lutando para que este dinheiro seja direcionado para reforçar a bolsa-permanência para os alunos negros/pobres do ProUni, para o custeio de despesas de transporte, material didático etc. Não sei se o MEC vai considerar... O fato é que uma boa parte dos cursinhos mantidos com este dinheiro, acabando o financiamento, deixa de funcionar. Isto é eficiente? Só alimenta o surgimento de ONGs frágeis e dependentes. Não cria entidades guerreiras, sólidas e autônomas.


Afropress - Se o senhor tivesse que se dirigir aos organizadores das duas Marchas, o que diria?

Frei David - Por que os organizadores das duas marchas estão totalmente ausentes destas lutas decisivas do dia-a-dia por políticas públicas/cotas em Brasília? Nas últimas 10 reuniões realizadas no MEC e na Câmara Federal, não tivemos a participação dos expoentes que lutam pelas duas datas. Por quê? Entendam nossa intenção ao emitir esta opinião, enquanto Educafro: é de apenas chamar a atenção dos dois grupos no sentido de que as marchas só terão sentido se seus organizadores estiverem fazendo este trabalho no dia-a-dia, nos bastidores e no “palco”, diante de cada grupo que está se organizando contra as cotas. É ilusão achar que só a marcha vai resolver a nossa árdua luta pelas cotas.

Entre os dias 10 e 14 de outubro/05, teremos mais uma atividade/desafio em Brasília, com a participação de mais de 40 pessoas, guerreiros/as de SP: a Andifes, entidade que representa as universidades federais, está querendo "embarreirar" as cotas na câmara e usando o MEC para seus interesses. Estamos chamando a Andifes para um debate. Os grupos das duas marchas poderiam nos ajudar? Tem que ser logo, pois fomos informados que a Andifes está jogando pesado para reverter o que conseguimos avançar na câmara. A nossa estratégia foi deixar o texto sobre cotas na reforma universitária como "boi de piranha" e avançar com as cotas na câmara. A Rede Globo descobriu e denunciou a nós e aos demais movimentos sociais que estavam nesta luta, em dois editoriais do jornal O Globo: nos dias 22 de agosto e 25 de setembro de 2005. Será que, ao lutarmos nos bastidores, estávamos fazendo algo errado? Os movimentos sociais não podem lutar nos bastidores? Só podem fazer passeatas?

A Andifes decidiu recuperar o terreno perdido e já está com todas as forças agindo nos bastidores da câmara. Por outro lado, nossos irmãos (super experientes nos trâmites da política de Brasília) estão focando seus esforços, brigando na questão das datas da marcha, cujo objetivo é defender as cotas. A que cotas eles se referem? As cotas nas universidades estão sendo decididas com grandes embates nas comissões da câmara e nas universidades. Já são quase 30 as universidades públicas que já adotaram ações afirmativas/cotas. As universidades onde a militância negra está agindo não estão esperando pela nossa marcha! Sabiam que, no Pará, as escolas particulares e a OAB derrubaram a política de cotas na Federal daquele Estado? O que fez ou fará o movimento negro nacional em relação a fatos como este?


Veja a carta encaminhada pela Equipe Educafro à Afropress, após a Entrevista.

À coordenação da Marcha Zumbi + 10

Caros(as) Amigos(as):


Estamos animados com este momento tão positivo da luta, articulação e vitória da Comunidade Negra, a nível Nacional, Estadual, Municipal e local. A unidade na diversidade é o novo valor e ponto forte que caracteriza a todos. Parece-nos que vencemos a fase em que, cada um que iniciava uma atividade em defesa da comunidade negra, queria que todos estivessem sob o seu “guarda-chuva”.

Vivemos, no campo político, novos paradigmas. A eleição do operário “Lula” revelou que a globalização deixa pouca margem para os Governos, legitimamente eleitos, governarem em seus países. Isto muito nos preocupa!

Apesar da vontade do Governo em querer acertar em suas decisões percebe-se insatisfações, em vários setores da sociedade brasileira, contrárias a seus atos governamentais.

As várias reuniões realizadas, a nível municipal, estadual e federal, revelam duas tendências para propiciar o “tom da Marcha Zumbi + 10”:

a) Questionar o Governo Lula;

b) Exaltar o governo Lula.

A Educafro entende que não podemos errar o foco. Devemos sair das duas tendências acima expostas e assumir outro foco: O MERCADO FINANCEIRO que está TRANSNACIONALIZADO e excluindo os negros, os índios, os trabalhadores sem-terra, bem como a todos aqueles que são marginalizados e massacrados pela sociedade.

Propomos centrar nossa marcha exigindo ações afirmativas no MERCADO FINANCEIRO!

A Marcha deveria se concentrar na Rodoviária de Brasília, local abandonado, sujo onde circula a maioria do nosso povo negro e se dirigir ao setor bancário, local opulento, concentrador e discriminador.

Neste dia 20 de novembro, deveríamos escolher os 20 Bancos que mais excluem a população negra e contra eles fazermos nossa marcha.

A Marcha deverá concluir em um monumento destinado à ZUMBI DOS PALMARES, o qual deveremos exigir um busto para reverenciar a sua memória.

Desculpe-nos por apresentarmos esta sugestão somente agora. Somente agora fomos intuídos destas propostas.

Equipe Educafro

2 Comments:

  • At quinta-feira, 13 outubro, 2005, Anonymous Anônimo said…

    A entrevista do frei David é magnífica na mais ampla acepção da palavra magnífica, em especial porque traz à tona velhas e novas polêmicas e até desabafos/acusações para todos os gostos.

    Mas ninguém pode se queixar de que ele não é sincero, ou que seja um covarde, por não expor o que pensa. E tenho o dever ético de dizer que ele enfrenta o racismo incrustrado na Igreja Católica Apostólica Romana. Não há como desconhecer isso.

    E eu tenho um enorme respeito pelas pessoas que têm coragem de falar o que pensam. Inegavelmente, a sua entrevista é uma importante contribuição ao debate político sobre as Marchas Zumbi +10, sobretudo pelo reconhecimento que tenho da importância política do seu trabalho.

    Em primeiro lugar, entendo a sua entrevista como uma tentativa de postura de deferência à alteridade, todavia não chega a tanto. Também acho arrogante essa formulação de “Família Educafro” em especial centrada numa fala que dá a entender que só a Educafro é “gente que faz” e que nós, mortais comuns, somos um bando de pessoas desocupadas e que sequer temos neurônios suficientes para proceder a alguma tentativa de análise da realidade...

    Tenho a convicção que não foi isso que frei David quis dizer, mas é o que está escrito, sobretudo por desconsiderar que há um mundo de necessidades temáticas que são caminhos de combate ao racismo e de promoção da eqüidade e que há um mundaréu de gente (Nas duas MARCHAS, SIM!) que no cotidiano de suas vidas constrói, cada um a seu modo e segundo as circunstâncias das vidas das pessoas comuns, e em geral com muita solidão e sem a aura de santidade (que inegavelmente é quase certeza de apoio, em especial financeiro). Além de alguma sagacidade para perceber que vivemos em um país de racismo estrutural que, apenas e tão somente políticas públicas de ação afirmativa, qualquer uma – -- até as cotas étnicas nas universidades – não enfrentam o problemas são condutas PALIATIVAS!... Embora paliativas, absolutamente necessárias... Ou seja, as “coisas “ pontuais que fazemos no campo TEMÁTICO são algo como cosméticas no racismo brasileiro...

    Eis um dos alicerces da Marcha do dia 16... Bem, mas isso não importa segundo o nosso entrevistado... as duas coordenações políticas das Marchas são farinhas do mesmo saco, gente que não faz, apenas porque não está no mesmo tema da Educafro! Eu acho isso uma certa miopia política!...

    Mas é fato que cada negr@ em luta em qualquer setor se queixa realmente de solidão, de falta de apoio, etc... etc... e isso parece-me insolúvel e não adianta ficar cobrando, cobrando ou fazendo juízo de valor descabido... pois somos ainda pouc@s e dificilmente podemos tocar os “mil e um instrumentos” que precisamos.

    Por exemplo, as feministas negras poderiam se queixar que a Educafro não dá a menor pelota para a luta das negras... Ou a Educafro não sabe quem são as negras as que mais morrem de parto e de aborto inseguro no país? Por que não se pronuncia? Nem estou pedindo que fique peregrinando conosco em nossas muitas pelejas junto ao Ministério da Saúde e lá se vão 30 anos de peleja organizada... E NADA, nenhuma linhazinha de solidariedade. Não é uma queixa, apenas para demonstrar que não é fácil ser ONIPRESENTE, aliás, é IMPOSSÌVEL...

    Nesses anos tod@s jamais vi sequer uma referência escrita à nossa peleja por parte das pessoas que fazem a Educafro... nenhum “recorte de gênero” quanto mais perspectiva feminista ou mesmo antipatriarcal no que a Educafro faz. Não estou dizendo que não existe e nem me postando num Muro de lamentações, apenas jamais recebi no que faço qualquer solidariedade e nem soube que outra feminista negra tenha recebido. Mas isso não me autoriza a dizer que só nós, as feministas negras, estamos do lado do povo negro ou mesmo apenas, e digo apenas, das negras!

    Bem, estou apenas situando para que a polêmica tome mais corpo. Pois acho, sinceramente, que não significa que a Educafro esteja se lixando para nós, embora possa mesmo ser isso, mas não me sinto autorizada a afirmar isso...

    Ou seja, acho que nos cabe constatar que ainda somos pouc@s diante da tarefa anti-racista posta, portanto, até por isso, precisamos valorizar o que cada pessoa faz... Sim, estou concordando na prática e de verdade com uma afirmativa do frei David que é “o movimento negro maduro sabe-se plural”...

    Enfim, nada do que cada um(a) de nós que luta contra o racismo é mais importante do que a outra pessoa faz e nem credencia nenhum(a) de nós a “se achar”....

    Ah, também a entrevista aportou novos conhecimentos... imagine, eu jamais soube de algo sob o nome de TUCANAFRO! Interessante mesmo...É para isso que serve mesmo a alternância de poder: gerar consciência... A alta plumagem do tucanato ficou 8 anos no poder, e embora tenha arranhado em algumas questões anti-racistas, reconheço sim que arranhou, não conseguiu internamente criar um TUCANAFRO, apenas estruturou uma “Rede de Cooptação Monetária” de Movimentos sociais negros, mas ao perder o poder... Não é mesmo MARAVILHOSO? Eu acho...

    Bem, para mim o frei David é uma referência. Jamais esqueço que mesmo atéia, senti obrigação de referenciar as bruxas por ele existir quando li Especial. A face real da Lei Áurea www.ibase.br/pubibase/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=298&sid=2
    E o citei várias vezes, mas de uma tenho certeza e como comprovar. Foi em Meu artigo “A pedagogia das cotas étnicas” (O Tempo. BH, MG, 14 de maio de 2003), do qual transcrevo as citações, literalmente: “O frei David Santos Ofin, da Educafro, em A face real da Lei Áurea, diz que no máximo ela ‘serviu como estratégia para dar à população negra respaldo de libertação jurídica’. Pelo último censo do Império (1872) o total de negros era de 1,5 milhão, destes 1 milhão viviam nas lavouras e a Lei Áurea, 16 anos após, só beneficiou, oficialmente, 750 mil escravos. Velhos, doentes e inválidos eram alforriados para a mendicância. Por que apenas uma pequena parcela de negros continuava escrava? Mais que as leis, a luta pela liberdade preparou o fim da escravidão, pois a busca da alforria, a princípio no plano pessoal, depois um processo coletivo (Palmares e outros quilombos) minou a escravidão.

    Para o frei David, a Lei do Ventre Livre (1871) ao separar as crianças de seus pais, desestruturou a família negra. Para desobrigar os escravistas das despesas com crianças negras, foi criado um albergue público, onde 80 em cada 100 crianças morriam antes de 1 ano de idade. A referida lei gerou ‘as primeiras crianças abandonadas do Brasil’. Sobre a Lei dos Sexagenários (1885), frei David diz que ela marginalizou velhos doentes e inválidos, fazendo surgir os primeiros mendigos nas ruas do Brasil”.

    Caro frei Davi, acho que é uma honra e um privilégio saber que podemos contar com você na luta anti-racista. Compreendo que como homem da Igreja Oficial, diante das posturas de chantagens da CNBB sobre o governo e até das negociatas que tem empreendido, e sempre contra as mulheres – ainda que a CNBB tenha de fazer vistas grossas para a política mais geral que desfavorece o povo, apenas e tão somente para fazer valer sua doutrina, mesmo desrespeitando a laicidade do Estado brasileiro, eu entendo que para permanecer na Igreja Oficial você deve obedecê-la, pois os homens da Igreja não são livres e nem podem exercer a autonomia de pensar e de agir. Não é uma crítica e nem a imposição de um demérito à sua pessoa, apenas uma constatação necessária para que possamos entender o contexto em que se dá a sua posição sobre as Marchas. É o que penso.

    No mais, aqui cabe uma leitura do artigo "lava alma" assinado pela Casa de Cultura da Mulher Ngra, publicado em nosso BLOG: "Vocês não podem adir nossos sonhos! Estamos por nossa conta! "

     
  • At terça-feira, 18 outubro, 2005, Anonymous Anônimo said…

    concordo que o educafro não apóie nenhuma das duas marchas. Verdadeiramente sinto saudades do tempo da Pastoral do Negro quando atuávamos vivamente em São Paulo, mas pior que isso é ver a omissão total das igrejas evangélicas nessa questão. Portanto compreendo muito bem a situação do Frei David, um ícone nessa luta, mas é preciso chamar à responsabilidade um outro segmento que cresce diariamente e está alheio a nossa causa. Onde estão os evangélicos nessa luta? Existem líderes negros evangélicos pensando a questão, participando da luta? Deixando de lado a fé de cada um, temos uma causa comum que indifere de credo. Somos negros/as e a sociedade brasileira tem uma dívida que está crescendo para conosco. Os juros são altos e queremos receber.
    Joana dos Anjos
    joana dos anjos

     

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