Marcha Zumbi +10

Espaço para divulgação da Marcha Zumbi +10, que ocorrerá no dia 16 de novembro de 2005, junto aos meios de comunicação, militância, mundo acadêmico entre outros.

11.15.2005

O racismo mata

Fátima Oliveira

Quanto custaria elevar os percentuais de acesso dos negros à educação, habitação e saneamento básico (água e esgoto) aos mesmos níveis em que se encontram os brancos? De acordo com dados primários de 2000 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), tendo como eixos a educação, a habitação e o saneamento básico, em reais, o custo do racismo brasileiro – “o preço a pagar para se igualar a situação de negros e brancos” – é em torno de R$ 67,2 bilhões, valor menor que o patrimônio atual do FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador (+ de R$ 100 bilhões); cerca de 78% do superávit fiscal de janeiro a setembro de 2005 – que foi totalmente para o ralo dos juros da dívida pública.
Para a Marcha Zumbi +10 do dia 16 de novembro: “É um volume de recursos com o qual o Estado brasileiro tem toda condição de arcar, desde que suas prioridades sejam revistas, tendo como norte o reconhecimento da questão racial em toda a sua plenitude e a decorrente necessidade de políticas públicas efetivas direcionadas para a população negra”. Há mais de uma década o Estado mais rico do país, São Paulo, convive “cordialmente” com uma mortalidade de negros maior do que a de brancos. E nos grotões e guetos de miséria pelo país afora? No Brasil, negros morrem antes do tempo em todas as faixas etárias, por causas preveníveis e evitáveis. As negras são as mulheres que mais imolam suas vidas no altar racista do Estado brasileiro, pois são as que mais perdem a vida pela 1a. causa de morte materna no país – “pressão alta” não tratada durante a gravidez e por abortamento inseguro. São por tais perdas precoces de vida que a Marcha Zumbi +10, apresenta uma Ala Contra a Morte Materna e outra Pela Legalização do Aborto.
O Documento do Encontro Nacional Olhares da Mulher Negra sobre a Marcha Zumbi +10 (maio de 2005), diz: “Exigimos ‘o direito de ter filhos e de vê-los crescer’, pois vivemos uma situação de genocídio, pois o povo negro está morrendo mais que outros setores da população”. Diante de inegáveis práticas racistas, quem marcha por sua própria conta, por ter conquistado carta de alforria ideológica, não pode brindar a recente aprovação, no Senado, do Estatuto da Igualdade Racial, que não contempla a obrigatoriedade de provisão de recursos para a cidadania do povo negro – Fundo Nacional da Promoção da Igualdade Racial. Exigimos que tal omissão seja sanada na Câmara dos Deputados, que precisa se dar conta que nenhum país vai a algum lugar decente confinando metade de seu povo ao abandono, como é hoje a condição negra no Brasil.